Docentes do CCA conduzem pesquisa que fornece modelo de paisagens agrícolas sustentáveis na Caatinga.
A pesquisa tem a participação de seis docentes do CCA e foi publicada em uma importante revista sobre política de uso da terra.
Um estudo recém-publicado na Land Use Policy avaliou a estrutura de paisagens agrícolas em uma das áreas mais secas do Brasil, e forneceu um modelo de paisagens agrícolas sustentáveis para áreas secas tropicais. O estudo foi conduzido por pesquisadores do Centro de Ciências Agrárias-UFPB, Universidade Estadual da Paraíba, Associação Plantas do Nordeste e Universidade de Miami e foi apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Os pesquisadores avaliaram como diferentes coberturas das paisagens (naturais, agrícolas e degradadas) estão relacionadas com a manutenção de água no solo, produção de energia de biomassa e produção de alimentos derivados de práticas agropecuárias no Cariri paraibano. Em áreas secas do mundo, água no solo limita vários processos biológicos e está relacionada com a capacidade de produção de alimentos da paisagem. No entanto, essa manutenção de água no solo também está associada à sua cobertura e a densidade da vegetação que, por sua vez, é afetada pela extração de madeira para produção de energia ou outros fins. Como esse fornecimento de água, energia e alimento estão interligados, trade-offs precisam ser avaliados simultaneamente e os pesquisadores adotaram a abordagem “NEXUS – água, energia e alimento” pra isso. Essa abordagem serve como uma estrutura flexível para encontrar as melhores estratégias de gestão de recursos naturais entre setores econômicos e escalas espaciais.
Os resultados do estudo suportam a hipótese que paisagens com complexidade de estrutura intermediária (ou seja, aquelas que combinam vegetação natural e ecossistemas transformados pelo homem) são as mais eficientes para produzir água, energia e alimentos na Caatinga. Além disso, os resultados mostram que o acréscimo da porcentagem de coberturas naturais na paisagem aumentou a produção de energia de biomassa, de alimentos e de água no solo. No entanto, essa produção de água estabilizou quando a cobertura natural ocupou mais de 80% da paisagem e a produção de alimentos diminuiu quando a cobertura natural ocupou mais de 50% da paisagem. O aumento da porcentagem de cobertura agrícola na paisagem aumentou a produção de alimentos, mas a manutenção de água no solo diminuiu quando essa cobertura atingiu 35% da paisagem. Finalmente, a produção dos três serviços ecossistêmicos (água, energia e alimento) declinou quando a porcentagem de áreas degradadas aumentou na paisagem, mas a produção de alimentos declinou mais rapidamente.
O estudo fornece quatro lições práticas que podem orientar o planejamento de paisagens agrícolas sustentáveis em áreas secas tropicais:
1) A manutenção de grandes áreas de vegetação natural ou restaurada é importante para paisagens agrícolas sustentáveis. Esses resultados apontam que a legislação brasileira precisa ser atualizada e aplicada se o país deseja atingir o desenvolvimento sustentável de atividades agropecuárias em suas terras secas.
2) Diversidade de culturas agrícolas, rotação de culturas e a agricultura mista em sistemas agropecuários devem ser adotados nas fazendas, com potencial de alcançar altos rendimentos produtivos em áreas secas.
3) Áreas degradadas devem ser evitadas nas paisagens pois comprometem a provisão de serviços ecossistêmicos e geram altos custos socioambientais para a população local. Os resultados mostram que a disponibilidade de água no solo e a produção de alimentos diminuem quando áreas degradadas cobrem mais de 12% de uma paisagem.
4) Paisagens agrícolas sustentáveis requerem grandes áreas para conservação e uma integração mais sistêmica dos sistemas de produção. Portanto, o planejamento e a implementação dessas paisagens exigem adoção de um sistema de governança capaz de coordenar os esforços de sustentabilidade tanto em nível da fazenda como em maior escala espacial, como bacias hidrográficas ou outros tipos de esquemas de regionalização.
Sumarizando, para garantir segurança hídrica, alimentar e energética a longo prazo, as paisagens agrícolas em áreas secas tropicais exigem mais conservação (incluindo a restauração de áreas degradadas), mais diversificação e adequação das práticas agrícolas e uma melhor integração de iniciativas individuais em uma escala espacial maior.
Fonte: CCA – UFPB
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